8 de março de 2009

O Cheiro dos Autocarros

Cheira a naftalina o autocarro de domingo à tarde! Predominam os tons escuros das roupas, os cabelos brancos, as rugas na pele, as vistas cansadas, as tosses secas e as vozes roucas. É o dia de passeio para os avós que visitam os netos, para os jogadores de xadrez, para os velhos do parque. Cirandam pelo autocarro a cada paragem, procurando o lugar mais próximo da porta, para que ao chegarem ao destino não tenham de se mover demasiado. Conhecem-se todos, os velhotes. E quando não, pouco tarda para que metam conversa uns com os outros. Mas ao chegar aos seus destinos vão embora sempre sozinhos, com andar lento e olhos cheios de saudades... para as antigas casa da cidade.
-
Cheira a pastilha elástica o autocarro de domingo à noite! Predominam os tons coloridos das roupas, os cabelos brilhantes, as peles lisas, os olhos cansados mas brilhantes, o mascar e o burburinho. É o dia de retorno à cidade, para mais uma semana de estudos. Mantêm-se nos seus lugares por trazerem as grandes malas de viagem. Poucos se conhecem, e assim pretendem continuar, com os auscultadores nos ouvidos. E ao chegar aos seus destinos saem em pares ou trios, nunca mais do que isso e vão embora, com o andar lento de puxar as malas... para as antigas casas da cidade.