Contaram-me de um velho que só eu via. Sentado no muro junto à figueira. Não me lembro dele, mas imagino-o agora. Sentado no muro do poço. Um silhueta contra o pôr-do-sol. Uma voz rouca que impele.
Um homem com trapos velhos e rotos, outrora garridos. Com botas de pele curtida. Cabelos brancos e raros, como as flores da amendoeira. Um voz seca que invoca.
Uma criatura de olhos negros ensinados pela vida. Rugas profundamente carregadas na tez madura de quem passou a eternidade olhando o sol. Os lábios já engolidos pela boca sem dentes. A barba rala cortada à navalha em lavatório de ferro. E um dedo que aponta.
E aquele dedo de osso e pele, já sem carne que o mantenha firme. Uma unha suja de terra. Numa mão que com esforço se ergue. Numa mão pintada pela idade. E uma voz crua que insiste.
E eu, olhando aquele ser carcomido, na minha inocência falsa dos escassos três anos que me carregavam. E ele, olhando o horizonte, nas sua sabedoria falsa do tempo incontável que carregava.
Contaram-me de um velho que só eu via. Quando, pequena, mudei de casa. Um velho que vi ao chegar ao meu novo lar. Não me lembro dele, não me lembro do que terei imaginado que ele faria ou diria. Mas para criar uma memória não é necessário um acontecimento, apenas a nossa certeza dele.
Um homem com trapos velhos e rotos, outrora garridos. Com botas de pele curtida. Cabelos brancos e raros, como as flores da amendoeira. Um voz seca que invoca.
Uma criatura de olhos negros ensinados pela vida. Rugas profundamente carregadas na tez madura de quem passou a eternidade olhando o sol. Os lábios já engolidos pela boca sem dentes. A barba rala cortada à navalha em lavatório de ferro. E um dedo que aponta.
E aquele dedo de osso e pele, já sem carne que o mantenha firme. Uma unha suja de terra. Numa mão que com esforço se ergue. Numa mão pintada pela idade. E uma voz crua que insiste.
E eu, olhando aquele ser carcomido, na minha inocência falsa dos escassos três anos que me carregavam. E ele, olhando o horizonte, nas sua sabedoria falsa do tempo incontável que carregava.
Contaram-me de um velho que só eu via. Quando, pequena, mudei de casa. Um velho que vi ao chegar ao meu novo lar. Não me lembro dele, não me lembro do que terei imaginado que ele faria ou diria. Mas para criar uma memória não é necessário um acontecimento, apenas a nossa certeza dele.
Sem comentários:
Enviar um comentário